sexta-feira, 30 de abril de 2010

ESTRADA 2

Minha estrada de pedra
Que beija a areia
Que beija o mar...
Palco de minhas passadas no arrebol
Repassadas, liricamente, no pôr- do- sol
Perguntam-me as horas
Vou distribuindo horas e sorrisos
É minha especialidade!
Velhinhos cochilam sentados
Velhinhas caminham lépidas
Garis em varredura coletiva
Bicicletas, carros, pássaros
Vendedores, compradores
Casais apaixonados ou não
Agitação e vida!
Correr...
Algo realmente subjetivo
Corredores e corredores
Passam por mim
Nessa minha estrada de pedra
Que beija a areia
Que beija o mar...
Minha estrada diária
Onde caminho
Sorrindo!

Iracema Ananias*
30/04/2010

foto: Iara do Ivaí
Calçadão de São Vicente-SP

quarta-feira, 28 de abril de 2010

SURREAL

Pássaros em revoada atravessam os prédios.
Qual a miragem?
Os prédios ou os pássaros?
Ou ambos?
Na úmida manhã, o sol espia preguiçoso...
Uma pessoa grita num apartamento abaixo.
Por onde anda a mulher negra que gritava na minha rua de outrora?
Minha rua de hoje é silenciosa.
Penso em você...
Sua lembrança não me deixa dormir.
Em que dobra dos lençóis estão perdidos nossos sonhos?
Sonhos reais?
Surreais?
O que fazer nesta manhã cinzenta se estamos sonolentas, eu e a manhã?
Por que este silêncio?
Aonde foram cantar os pássaros?
Aqueles, que cantavam no jamboleiro que enfeitava minha janela?
Por que o derrubaram?
Cadê sabiás, rolinhas, beija-flores?
A chuva recomeça.
Choro celeste e humano.
Choro manso...
Perguntas sem respostas.

Iracema Ananias*
28/04/2010

Foto: ctbc.com.br/oglobo.globo.com

sexta-feira, 23 de abril de 2010

METADE - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais...
Porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia.
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro.

foto Iara do Ivaí


sábado, 17 de abril de 2010

FLY BUTTERFLY

Alça voo na ousadia de sua paixão pela vida
Ganha os céus com a transparência de suas asas
Sobe alto, bem alto na leveza da brisa
Ousa no sonho de voar sobre os cirros
Fly butterfly...

Seu destino é viver a liberdade dos ares
Sua natureza é esse voar gracioso
Celebrando a vida na carícia das flores
Levemente, docemente
Fly butterfly...

Encanta com sua graça e leveza
E nem sabe que nasceu para o sol
Cuja função maior é transformá-la
Em fulgurante estrela sob seus raios
Fly butterfly...

Iracema Ananias*
30/03/2010

Foto DU ZUPPANI

sexta-feira, 9 de abril de 2010

LONGE É UM LUGAR QUE NÃO EXISTE

Em minha vida te busquei por toda parte,
Porque vivestes muito longe dos meus sonhos.
Na crença vã que toda vida imita a arte,
Pintei em quadros nossos rostos tão risonhos.

Estava escrito nos teus olhos que destarte,
Provocarias meus gemidos mais tristonhos.
Mas os meus olhos nunca leram no estandarte,
O que diziam os teus beijos tão bisonhos.

Estando longe te queria muito perto,
Acreditando nesse amor cativo e triste...
Sem conhecer o verdadeiro amor liberto,
Que prevalece na distância e não desiste.

Quem vivencia o pleno amor já tem por certo,
Saber que longe é um lugar que não existe.

Iracema Ananias*
Poema escrito para o Concurso de Poesias Eduardo Ballerini-2009

Foto: Atol das Rocas - Brasil
www.tamar.com.br

quinta-feira, 8 de abril de 2010

PODER

No momento da perda, descobrimos como ganhar.
No momento da fraqueza, encontramos nossa força escondida.
Naquele momento cruel, onde tudo conspira para a desagregação do nosso eu, e nos sentimos pequeninos e destronados...
Acontece a revolução!
Nossa alma busca nos confins do universo de nosso âmago, aparentemente tão debilitado...
O poder!
O poder de seguir em frente apesar das lágrimas.
O poder de transformar mágoas e ressentimentos em uma nova verdade!
Voltar a crer no poder magnífico do sonho e transmutá-lo em realidade.
Saber que a vida é cíclica.
Saber que cair ou ser derrubado é humano, e levantar-se é mais humano ainda.
É exercer o poder divino do perdão!
E perdoando, enfim, redescobrir o poder do coração...
Do nosso próprio coração!

Iracema Ananias*
Soc.Poetas Vivos
outubro/2006

Foto: Palê Zuppani