


Meu coração ainda brinca
naquelas areias...
Este livro é um tributo a meus pais e à cidade
de minha infância: Paraíso do Norte, Paraná, onde
moramos de 1.960 a 1964.
Naquela época não havia iluminação, calçamen-
to ou arborização, mas eu amava aquela cidade.
A igreja em madeira era linda em minhas lem-
branças; o som do sino e o singelo campanário...
O Educandário com seu piso impecavelmente
encerado e sempre imune ao areal que o circundava.
Sua praça era um descampado, mas adorávamos brin-
car ali após as aulas.
Ruas de areia, sol escaldante e o calor intenso dos
verões; invernos rigorosos e geadas...Terra de con-
trastes!
Noites de breu cravejadas de estrelas; milhares de-
las a encantar nossas vidas. Eu estendia os braços e as
tocava...
Os anos passaram e ainda procuro em outros céus,
o céu estrelado de meu Paraíso.
Guardo com ternura um tempo feliz; um tempo em
que eu vivia tocando estrelas!
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Sonhei que estava em meu apartamento recém reformado e de repente, comecei a perceber problemas na pintura novinha que apresentava bolhas; muitas delas. Peguei uma espátula, fui batendo com o cabo e identifiquei várias partes soltas: algumas pequenas e outras enormes. Com a lâmina, soltei a massa e a tinta desses locais, deixando o chão repleto de lascas.
Lembro que falei:
- Credo! desse jeito, terei de reformar esse apartamento novamente...Nesse exato momento, ACORDEI!
Senti gratidão por ter acordado e acordada, pensei na grande lição que aquele sonho me dera:
Esse apartamento do sonho na verdade é nossa alma, nosso eu, e sempre será preciso uma reforma interior sem medo de cobrir o chão com as lascas que nos prendem a idéias rançosas e desnecessárias em nossa existência. Tantos planos estabelecidos por nós que são modificados pela vida, coisas acontecem... Por isso não devemos temer as reformas.
Temos o direito de ousar em novas experiências. Devemos descartar sem remorsos os planos frustrados e substituí-los por outros e saber que mesmo esses, serão passíveis de mudanças.
Temos o dever de repaginar nossas paredes e remover os “ocos” bolorentos que tanto mal fazem ao nosso crescimento cósmico.
Iracema Ananias*
Fotos Iara do Ivaí